sábado, 6 de novembro de 2010

1976

 

 

Falta droga...






E páro, esquecido do conto, dos planos ou da sua ausência, a pena escorrendo escrita como quem, nos sanitários, se despede indiferente do seu mais dentro.


Profissionalmente sou escritor e basta-me. Se, como profissão, não rende, tanto pior, e tal só contribuirá para o meu enriquecimento pessoal.
Em todo o caso a questão é-me alheia e persisto no que lá atrás iniciei: a escrita.



Face ao inimigo qualquer benevolência corre o perigo de parecer cedência, levando-o a atacar.



O meu futuro não existe porque não tenho um projecto.
"Deixar andar!" – que fiz meu lema – leva a que, neste momento, por exemplo, me compare a um ponto que ignora a linha a que pertence, embora, pela força das coisas, saiba da sua própria existência. Momentos inerentes à minha escolha, instantes de vazio absoluto.
Só a lucidez me diferencia.


Falta droga.


Faço-me a papel e pena e não aguento sem escrita. Por ela me defino, sinto, vivo.
O mundo não me interessa e nada me importa.
Vertido por um declive que inclino sempre mais e mais, perco-me na velocidade que me imprimo. Quantas vezes já mudei de vida, nesta aparência de mudar coisa alguma?
Busco a morte, o fim desta angústia-vida. A droga mantém-me vivo, sempre mais junto ao fim. Sem paciência para convívios, dispenso a admiração alheia. Quero-me só, suicidar-me nesta forma que aprendi.
Viver é uma batalha, cuja glória ignoro, mas a dureza sinto.
(Para quê isto?)


Deus será o vazio, a disponibilidade absoluta.
A vida, um movimento para além.
Siga-se a vitalidade do instinto harmonizando o seu lado destrutivo.
A vida é um exercício de equilíbrio.

















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