sexta-feira, 5 de novembro de 2010

1980



Obra difícil

 





20 de Janeiro
Mudar de vida mais uma vez... Busco forças lá muito atrás e acho-me capaz de fazê-lo.



Que a humanidade se orgulhe de mim.



Sem dia marcado, em Janeiro
Abatido e só, enquanto na rua uns tantos dão vivas à sua vitória.
Profundamente eu, ou que isto seja apenas literatura.
A secretária cheia de papelada, livros, escritos, esboços, mais a incerteza do dia-a-dia.



Nenhuma vontade de continuar este diário.
Estado dos nervos: acordeão.
Vida de Merda (com maiúscula, evidentemente)

 

 

Sem dia marcado, em Fevereiro

Uma pessoa busca quem é e bem pouca coisa acha. 



Crise de crise.
Não me sinto, não sei onde estou, e cada vez sou onde menos pareço.  Alheamento do próprio alheamento. Morto, ou vivo, num algures que não caracterizo.
Escasseia o interesse e sobra a vida.
Um cigarro não passa de um cigarro e fumo-o indiferente. Assim, o cigarro sabe a nada, e, fumando-o, desejo o cigarro que não fumo.
Impressão de me sentar numa sala de espera onde esperar não faz sentido. Outrora a expectativa e o contentamento, agora o balão que rebenta e nem o susto pelo estoiro. Linear, sem a simplicidade da linha, as coisas olham-me, as roupas vestem-me.
Forma vazia de conteúdo.
E sempre a náusea do poder que diariamente se vomita. Uma coisa urge: esquecimento. Mas a paragem é impossível e, nadador exausto e a igual distância das duas margens, obrigo-me ao alcance de uma, quando o entusiasmo por qualquer delas findou.
Porque não te afogas?
Porque não o suicídio? 
Que razões ou interesses subsistem? O mundo sem mim não fica mais pequeno e comigo também não acrescenta. Razões de família? Balelas! Medo do acto? Mas se nem se dá por ele e, nos outros, é que o dito ricocheteia! (E não é bem-feito? Ou nem isso valem?)
Não me mato pela bizarra competição de ver quem mais resiste? Então a minha capacidade é desmesurada porque nesta ausência ainda sobrevivo. Mas fingir interesse pela existência não é cretino? E existir “des-existencialmente” não é contraditório, ou absurdo? Mas se tudo não passa ainda de um acaso, viver absurdamente não é coerente com a vida?



Devo sujeitar-me à burocracia indispensável para que me tomem por “respeitável” ou “sério”? Ou, dada a minha teimosia de vivo (na verdade inércia de morto) apenas tenho que aguardar o fim, o menos incomodamente possível? Mas como preencher esta duração? Se o morto não tem emoções, o vivo, pelo contrário, vive delas. A emoção sem entusiasmo é possível? Se o fumo aborrece o cigarro e a sobrecarga de emoções se destila em cansaço, como tornará a sentir o emocionalmente saturado?
Mudando de perspectiva.



O humano necessita de reconciliar-se, aceitar o seu absurdo e viver quotidianamente.


Olhar as coisas como um jogo, pois quando ele desaparece, logo vem o aborrecimento.
A maioria fica prisioneira do seu b.i.: leva-se a sério porque leva a sério Isto. 
Ideólogos, conscientes ou não, do status quo.



24 de Março
Sempre pelo prazer e nunca pelo dinheiro


26 de Março
Convite para o Algarve. Mas chove e não sei se irei. Cada vez sei menos, aliás.


Perdido porque descrente no meu trabalho. Se desejei aos onze anos ser escritor, a contra-gosto realizo o desejo: escrever é uma chatice. Procuro uma profissão que me seja quando apenas a de ser me serve. Mania de me perguntarem pelo que faço, sempre na expectativa sei lá de que resposta! E eu sempre a dizer “nada de especial! Nada de especial!” quando, na verdade, nada se repete. As relações humanas são uma mentira. Com quem poderemos ser? O problema consiste em saber quem somos.

Tanto se paleia que ficamos paleio.
Chegar aos trinta... Mas os trinta é que nos chegam e com eles uma série de obrigações. Aos trinta encaram-nos como um produto acabado e vá de nos rotularem para o supermercado.
Rótulos de chumbo travando o voo.
Urge uma viagem, nada pior que parar no mesmo quarteirão: integram-nos e retransmitem-nos a nossa imagem arrumada no saco dos “Fulanos Tal”.
Estrangeiro em todo o lado, sentir sempre a diferença.
A repetição é enfadonha, asfixia.
Poucos renunciam lucidamente ao ter, daí a minha dificuldade em encontrar companhia. Irene disse-me um dia que já não sentia ambições. E eu? Ambição de morrer ou desaparecer daqui.
Ultimamente não escrevo. Parece que cheguei a um limite. O fim? Mas é mais cansaço de passar ao papel porque a imaginação ainda fabrica.
Ah, tirar a cabeça!



Sonhos lindos, intransmissíveis por escrito. Chego a sonhar com casas onde os quartos têm a superfície das maiores praças, sem uma falha na decoração.
Inibo-me e acabo sempre por atribuir as culpas à casa, quando a incapacidade em dar um berro aqui dentro é só minha.




Dificuldade em prosseguir. Para quê a vida se nada há a fazer? Mas por que utilizá-la, conferir-lhe um valor?
Maldita educação!
Porque não me aceito gratuito da mesma forma que aceito a gratuitidade Disto? E existo? Ser não é possível agora. Só sub-ser. Mas se tanta gente sub-é, não me adaptarei também? Ou a maioria não dá conta que não é? Neste caso isto de ser lúcido... E outra vez a escrita como forma de canalizar civilizadamente a dimensão que na vida não se realiza.
Bonito, não?
Sim, porque não te suicidas?



29 de Março
Porquê? Porque estou vivo.

Apetece lançar fogo à casa (última coisa que resta aqui fazer)



2 de Abril
Cansado ao contrário, isto é, consumido pela sensação de não me gastar, de não esvair as energias. Há um ror de meses que não escrevo…



3 de Abril
Quero-me pensante e crítico. Talvez porque me iluda menos, reconheço melhor a distância entre mim e os outros. Maior do que quereria porque dói.


5 de Abril
Esquecido que existo, embasbaco-me perante palácios que só o são porque me finjo boi.
Sei-me agora, para todo o sempre, sozinho.



20 de Abril
Sentado numa mesa cheia de gente, vem-me a náusea de estar Nisto há tanto tempo.



23 de Abril
De novo eu. Isto é: as férias das aulas deixam-me tempo para a criação. Funcionar e ser não se coadunam.
Morreu Sartre.



Sem dia marcado, em Abril
Salema, Algarve
Atinge-se a razão (entenda-se: o discernimento entre o Bem e o Mal segundo o critério d’ Isto) pelo final dos vinte anos; o desencanto sobrevém quando o encanto juvenil ainda subsiste - os novos velhos.
Aos “novos velhos” compete a reformulação das bases ideológicas em que assenta esta estrutura: o lucro não deve ser o motor da sociedade. E a mentira abolida, começando por cada qual: tudo deve ser claramente assumido.


Um sol tão brilhante que obriga a respirar fundo, a luxúria em natureza, um daqueles dias em que não se sabe quem respira: se nós na atmosfera, se ela em nós.
Freme-se de sentimento.
As experiências excedem a capacidade de sentir e a máquina ameaça sucessivas explosões.
Vozes de mulheres.
Sensações dispersas, adolescentes após o primeiro amor,  diapasão enorme e oco que atrofia e já nem escrevo, a literatura separa-me das coisas mas com palavras penso.
Fui uma criança só, cresci isolado e alimento-me de deserto. Querem-me por força alguém. Quero ser apenas Ninguém.
A inocência é impossível; afirmar-se significa matar. O meu drama reside na nula vontade de pisar outros.



Viver aqui e agora é cruel porque baseia-se no “salve-se quem puder!”. E a maioria não é, não passa de coisas entregues a troco doutras: objectos.
E enganam.
Se não te podes isolar, finge o menos possível.
Se não tens cuidado trucidam-te.
A selva.
Não a receies mas também não tens que adorá-la.


4 de Maio
Contactos com vista a arranjar editor, assegurar a bolsa, coisas que não me deixam disponibilidade para a escrita.
Ou seja, faço nada.



10 de Maio
Não escrevo há dois ou três meses. Entre mim e as coisas interpôs-se uma almofada, não sinto, e todavia quase expludo. Furiosamente vazio, busco nos livros alheios uma realidade minha, ou nem sei o quê. Necessito de me ferir à pena, sinto a carência do contundir com o real, o quotidiano sufoca-me, tanto mais que poderia repeti-lo até à morte. A hipótese assusta.
Falo pouco, mesmo quase nada e o silêncio passa através de mim, como se por qualquer outra coisa. Alheio-me da escrita, destas linhas e, se as escrevo, é apenas na esperança de mais tarde lograr o que ora sinto. E no entanto urge perceber o momento. Estudar, perde-me, nada faço na faculdade senão ocupar espaço e creio que esta forma de obter dinheiro – a bolsa – é mais maléfica que benigna. Só sou, sendo, e o meu ser não se realiza sentado numa cadeira. A minha singularidade necessita que a assuma. Diz Bertolt Brecht que é parvo o génio que não sabe prover à sua própria fome. Porque tenho tantodificuldade em saciar a minha? Deve ser possível fingir de normal! Porque estrago sempre a encenação? Não sei disfarçar? Se há indivíduos que não saibam viver fora do que são, um deles sou eu. Causa pena do ponto de vista da eficácia.



Escrevi “O Quarto”. Mas sinto dores nas costas, o dia foi agitado e já dificilmente presto atenção ao que faço.
Se não tenho o espírito ocupado, aborreço-me.



18 de Maio
Praia.
A certa altura dormito na areia e sonho: famílias, vozes, gritos, repressões. Acordo. Gente por todo o lado.

 

 

Sem dia marcado em Maio

Impasse.
Que fazer do sexo? Chegado ao ponto quente das relações, elas aborrecem-me e obrigam-me à ruptura. Inconstância.
Continuo sem escrita.
De vez em quando fico esquisito, não há meio de me habituar a isto. Parece que deixei de olhar e, em vez disso, só penso. Mas nada interessa. Doente de lassidão, a minha vida literária resume-se a escrever neste diário, extravasar estas sensações. Às tantas não sei onde me encontro, refugio-me na comida, estou farto desta casa, do movimento que lhe imprimi, da quantidade de coisas que aqui aconteceram, das pessoas que por cá passaram, dos romances que nela vivi. E passo de um sentimento a outro sem saber em qual acredite. E tudo se torna ainda mais instável.
No fundo a questão não me preocupa mas cansa.


24 de Junho
Ai pelos quinze anos quis ser actor. Agora, na sequência do curso de actuação em que me inscrevi, a fim de não voltar mais à toxicomania, integrei um grupo de teatro e o encanto pelo teatro foi-se: não sinto nada, salvo o tédio de um horário por cumprir. O mal sou eu. Pelos onze anos quis ser escritor e acho que vim a escrever umas poucas de páginas que me deram a impressão de sê-lo. E agora a escrita parece-me longínqua, coisa passada. Ainda com quatorze anos ganhei um primeiro prémio de pintura e logo decidi arrumar as tintas. Dei a volta a quatro universidades e estou de novo na mesma! Se me evaporasse por uns anos? Nasci contrariado, a minha atitude é a recusa, o altaneiro desprezo.
Não gosto da sociedade e não vejo possibilidade doutra.
Leio.


29 de Junho
Não apetece ler, nem inventar mais dias. Tudo deve nascer morto, apodrecer antes da florescência. Sou o zero integral de todas as coisas medíveis.
Basta.

 

 

Sem dia marcado, em Junho

Qualquer pesadelo me parece mais cor-de-rosa que a realidade. Resta a esperança em si mesma, o não se deixar abater. Andamos aos golpes, fazemo-nos mal. Desejos de ir embora, não vejo alternativa, só desgosto e esgotamento. Tão pouco consigo expressar o meu lamento e todavia o desespero é cada vez mais lícito. Que mundo, que direcção, que desacerto, que inteligente imbecilidade!
Não quero isto. Não me obriguem ao respeito a nada. Não desejo magoar. Mas, em contrapartida, magoam-me facilmente.
Frio.
Terror.
Desolação.
Não quero ser mau. Não quero conviver com ninguém. Não quero aprender.
Não quero.




Por favor, não me ensinem mais nada. Deixem-me a ilusão, deixem! Eu ainda posso ser bom, eu...
Por favor, vão embora mais os vossos sorrisos, os vossos obrigados e também as trocas. Vão! Vão! Partam! Eu ainda posso ser eu, eu ainda... Se ser adulto é o que fazem, prefiro não crescer.
Porque não me deixam a ilusão?
Não vêem que também posso magoar? Nasci, apenas, não sabia de nada e agora querem o quê? 
Que finja que não vejo? Que não ouço? Que saia de casa todas as manhãs como se nada se passasse?
Não.
Por favor, deixem-me só com a ilusão, deixem-me morrer no engano, eu... Eu era um projecto tão normal, tão “todos-os-dias”, porque não pôde ser assim, por que me tornarei também carrasco e a minha própria vitima? Porquê?
Por favor, não me ensinem nada.
Deixem-me antes que, contagiado, me faça definitivamente mal e vos castigue por isso, antes que entre também no massacre colectivo.
Por favor!


Este sabor a morte cada dia mais próxima é a única sensação emocionante que ainda sinto.



Numa passagem de peões e com sinal a meu favor, um carro veio de encontro a um joelho meu. Suicídio inconscientemente encomendado?


Amor é sossego em sobressalto.


18 (ou 19?) de Agosto
Continuo sem dinheiro e, mais importante, sem vontade de ganhá-lo. Mas não há dinheiro para nada. Para absolutamente nada. Apenas tempo. Tempo existe. Todo o tempo possível que, se o não racionalizo, se não lhe faço qualquer coisa, dá comigo em doido.
Esta noite sonhei com os imperadores da Pérsia. Estava-se numa sala tão sumptuosa que nem talvez eles a possuam!



Merda.
Sono em atraso. Telefonemas em atraso, tanta coisa em atraso, gasto de dinheiro com causas femininas.
Em contrapartida nenhuma escrita.



Sem dia nem mês marcados
Sentir.
Sentir.
Sentir.
Não quero sentir.
Sentir a todo o momento o menor movimento da flor que ninguém sente, sentir na pele as mudanças climatéricas que aos demais escapam, sentir o rotativo enlear da terra, sentir... sentir...
Sentir que se explode se o raciocínio não entra em cena. (O contra-regra não o programou)



Esqueci a escrita?
Baralhado.


E sentei-me a uma mesa de café sentindo estados de espírito.


Vivo na contradição de me satisfazer na saudade pelo que destruo.
Prazer e desgosto estão-me intimamente ligados.


Se não fora este contínuo achar-me outro, o enjoo seria insuportável.


Porquê tanto vómito?


Cada vez mais espantado e incapaz de dizer deste espanto.


Ir assim por mim dentro sentindo não sei o quê.

As noites em claro reaparecem. Amanhã vou tratar da minha vida, dizer do como há-de ser...


Fazer da vida aço que moldo, não consoante o sentimento mas o intelecto. E nada vale tanto como a sensação de mudá-lo, distorcer-lhe a continuidade, quebrar a monotonia, prazer constante do recomeço.


Outra vez em forma porque de novo sinto a Fome.


Dias em que apetece andar de bombas nas algibeiras e distribui-las pelas esquinas.
Merda.
Tudo impossível, a insatisfação por companhia, a coroa de flores no funeral a atestar que se existiu. Puta que o pariu!



Ressaca de crise. Não já a chatice mas ainda os seus efeitos, mais a incerteza sobre o que se faz. Vontade de abalar.



Estar quieto, não sentir o tempo, não correr. Escrever para nada, detesto o engano e gosto da montanha. Fui feliz quando não me pensava, embora corresse o perigo de ficar maluco.
Andar por ai, solidão absoluta.



E aqui estou.
Uma garrafa com água, a ausência de sono, a secretária sobre que me curvo, uma ou outra cor mais forte, deste ou daquele objecto e, também, a luz do candeeiro, dobrado como as minhas costas, porém dando claridade.
Lá fora o escuro.
De vez em quando a cortina estremece e murmura. Nas paredes, quadros. Olho-os e desligo a rádio.
À minha frente (mas à minha frente onde, adiante ou logo acima?) uma tábua de tom escuro, rectangular e maciça, assente numa mala de couro colocada ao alto. Não vejo a mala mas sei da sua existência: pu-la lá anteontem. Ao lado, um prato sujo de cereais, porventura meio apodrecidos (quando esqueci o prato?) minúsculas figuras geométricas que, no todo, formam um conjunto não alheio à harmonia, ainda que a pesada colher de estanho quebre, quer pelo cabo sobreposto no rebordo, quer pela cor branca deste, a inteireza do conjunto, dando-lhe foros de se ultrapassar a si mesmo, tal herói em fim de guerra transformando em glória o membro mutilado
E olho o prato, a colher, o resto dos cereais e pára-me o pensamento como se admirasse a mais conseguida obra d’ arte.
E não é?



Retorno a mim.
A vista choca nas paredes em volta, tão furiosamente como se nas grades de uma prisão. Mas afinal onde está a desgraça? Não sermos nós os seus únicos culpados? Cada qual sendo um Outro para os demais, onde nós mesmos, a percentagem que se não veste para receber as visitas? Ao fim destes poucos anos de vida, existir parece-me mais o resultado do Outro sobre nós do que algo que dependa apenas da nossa vontade. A vida é-nos alheia.



Cansaço.
Um cansaço redondo e tão enorme que mal posso olhar em roda. Depois, os outros. Que me rodeiam,  olham e interrogam o meu olhar vazio da fadiga. Não falo. Já não importa que digam que sou doido, chato ou o que quer que seja, mas preciso de repouso, duma pousada nas nuvens, algures, qualquer coisa, em suma, que me faça ver além desta realidade.



Cansado de cansaço tomei alguns comprimidos. Agora aguardo o sono. Isto porque uma dor nos olhos me impede o estudo. Gosto desta palavra. Não me canso de aprender e gostaria de saber... saber... saber...  Já sensibilizado para os problemas da Arte na educação. Talvez interrompa também este curso.
Tanto por escrever!



Não apetece falar. Sinto-me bem mudo, não apetece comunicar, como se já não suportasse a violação das palavras e fosse agora a reacção, o encontro comigo no silêncio tranquilo do meu corpo.
Nada a olhar em especial, o pensamento recolhido, deitando-se em mim, sonhando eus. O movimento a que me obrigo não me deixa tempo. E volta o tranquilo gosto, outrora abundante, da solidão assumida, sem chatices ou penas, assim é porque sim, faz parte do que sou. E sucede isto pela necessidade a que levaram de me pensar, senão abafavam-me. O grito sai. Reencontro um eu que há tanto desesperava encontrar! Com a diferença de que antigamente não sabia temperar-me e agora...
De novo confio.



Glória!
O prazer da escrita chama!



Tempo seco e húmido, prazer de destilar uma escrita todo volúpia como há muito não sentia. Esqueço o mais, a atmosfera penetra-me, assoa-se em mim e quase voo. Prazer em extremo fino, o requinte tornado coisa, ah como é bom o ar desta manhã, a tarde e a noite por virem, expiração minha, sorvendo o húmido lá fora. A liberdade volta e, também, o desengano. Tanto faz!
Profissionalmente sinto-me profundamente eu. Ou isto já é literatura?



Então resolveste pensar em termos de ti próprio. E não será tarde demais? Queres facilitar-te a vida? O ideal, na verdade, seria a ausência, a inexistência. Mas como é impossível, resta-te a afirmação. Vais, enfim, gritar que existes? Que tens andado a fingir necessidades quando, afinal, até és auto-suficiente? Enfim, visto por um lado só problemas. Mas, pelo outro, que espectáculo!




Noite.
Noite espada
Por mim adentro.
Fria lâmina que desperto, contemplo.



Meti-me com a vida e eis o resultado!















Nenhum comentário: